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VILMA BARBOSA DA SILVA

( Brasil – São Paulo )

Nasceu a 3 de Fevereiro de 1934, em Santo Anastácio, SP. 

 

CADERNO DE POESIA - II.  Santo André, SP: Clube de Poesia de S. André, 1954.   90 p.     15,5 X 22,5 cm.         Ex. bibl. Antonio Miranda.  

 

        Quadro familiar

Nervoso, como nunca, irritado,
Batendo portas, pés sujos de terra,
Esparramando cinzas, pé de guerra,
O jornal sob o braço, amarrotado.

Sobrecenho franzido, sob a serra,
De cabelos revoltos, atrasado,
Estremecendo os tacos do assoalhado
Entrou no lar que o seu poder encerra.

A surpresa deixou-lhe enfraquecida.
A voz, Terno, curvou-se até o ladrilho
E levantou os fios da lã tecida...

Ele viu as lágrimas em brilho,
Sobre o colo da esposa adormecida,
O primeiro sapato do seu filho.


Puro amor

Não tens nada de teu, bem sei, senão,
Um coração repleto de ternura,
E uma bondade imensa, que o clarão,
Dos teus olhos, sinceros, me assegura.

Não tens nada de teu, e essa razão
Que tu mesmo forjaste com agrura
E que é causa constante da apreensão
Que te faz receiar toda a ventura.

Não tem base sequer, nem a retenho,
Comigo, mora a fé no teu engenho
E na tua vontade, o resto é nada...

Para mim, tens fortuna, tens talento,
Tens tudo o que há de bom, porque acalento
A certeza de amar-te e ser amada.


Zanga

Já não falas comigo, e eu sei que é inútil
       Dizer-te que fiz bem, e se resiste,
E se na zanga firme ainda persiste
O coração que tens, em outros mil

Encontrarei o Amor, que em ti, se existe,
É Amor que magoa, Amor pueril,
Ambicioso, sem nada de gentil,
Amor que não perdoa e que consiste,

Num contínuo silêncio de revolta,
Num olhar de desprezo, numas escolta
De veneno e inquietude que maltrata;  

Amor, que da vaidade, não se solta,
Amor, que sem meiguice é mal que mata,
Amor, que de uma Amor nada retrata.

 

 

*

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Página publicada em novembro de 2022

 

 


 

 

 
 
 
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